“O pecuarista José Carlos Bumlai afirmou
que foi “burrice” assumir um empréstimo de R$ 12 milhões do Banco
Schahin para o PT em 2004. Ele foi ouvido ontem pelo juiz federal Sergio
Moro, na condição de réu da 21ª fase da Operação Lava Jato, batizada de
Passe Livre.
No depoimento, Bumlai ressaltou que não foi dele a iniciativa de
pedir o empréstimo. O pecuarista disse que foi chamado naquele ano para
uma reunião no banco, da qual participavam o então candidato a prefeito
de Campinas, Dr. Hélio (PDT), o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares; o
banqueiro Carlos Eduardo Schahin; o presidente do banco, Sandro Tordin;
e os marqueteiros Armando Peraldo e Giovanni Favieri.
O pecuarista disse que, nessa reunião, recebeu a proposta de assumir o
empréstimo de R$ 12 milhões. Segundo Bumlai, metade do empréstimo seria
usada no segundo turno da campanha do Dr. Hélio. A outra metade tinha
sido solicitada por Delúbio para resolver uma necessidade de caixa do
PT.
“Fui levado pela minha situação à época. Proprietário de 210 mil
hectares de terra, e com o PT assumindo o governo federal, éramos um
grande alvo para invasões. Eu não quis dizer ‘não’ [à proposta de
assumir o empréstimo] até por uma questão de receio”, justificou Bumlai a
Moro. O pecuarista lamentou ter envolvido o filho, Mauricio Bumlai, e a
nora como avalistas do negócio, assim como o empresário Natalino
Bertin, a quem pediu para intermediar o empréstimo ao PT, a pedido de
Tordin.
Quitação do empréstimo
Bumlai contou ter descoberto no ano seguinte (2005) que a dívida com o
Banco Schahin ainda não havia sido paga pelo PT. “A minha tesoureira me
chamou e disse que estávamos no Cadin [Cadastro Informativo de Créditos
não Quitados do Setor Público Federal]”. O pecuarista, disse então, que
decidiu hipotecar uma fazenda que correspondia ao valor do empréstimo
para se livrar do problema e poder voltar a utilizar os créditos rurais
em seus negócios.
Ele informou que, no fim de 2006, procurou o ex-tesoureiro do PT João
Vaccari Neto para pedir que o empréstimo fosse liquidado e que, nessa
época, ficou sabendo das negociações entre o Grupo Schahin e a Petrobras
para a operação do navio-sonda Vitória 10.000. Bumlai negou, no
entanto, ter conhecimento de que um acerto entre as empresas quitaria
sua dívida e disse que jamais se encontrou com diretores da Petrobras
para viabilizar o negócio.
José Carlos Bumlai também negou ter dito a representantes do Grupo
Schahin que o acerto estaria “abençoado” pelo presidente Lula. “Esse
termo nem é meu; isso é coisa de religião, e não de negócios. Nunca
falei com nenhum Shahin sobre contrato de navio-sonda com a Petrobras”,
ressaltou o pecuarista.”
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