Ramadã é negócio lucrativo e em expansão na França, diz Libération
O consumo de alimentos no Ramadã é comparado com o das festas de final de ano.
REUTERS/Amr Abdallah Dalsh
O início do Ramadã nesta segunda-feira (6), período de jejum para os muçulmanos, é a ocasião para o jornal Libération publicar uma reportagem sobre os negócios que proliferam por trás de um dos cinco pilares do Islã.
Momento de espiritualidade, o Ramadã
é um período de grande consumo, como nas festas de final de ano,
compara o diário. Segundo um estudo feito pela empresa de sondagens
Solis, na França o orçamento com alimentação das famílias aumenta 30%
neste mês de jejum, com uma média de € 300 (R$ 1.200). A explicação para
esse crescimento é o hábito de receber amigos e familiares em casa
durante o mês da prática religiosa.O período também é ideal para promover um negócio em plena expansão na França e no mundo inteiro: o business Halal. Até os anos 1970, a diáspora muçulmana se contentava em não comer carne de porco nem beber álcool, explica a reportagem. Até esta época, o famoso teólogo Youssef al-Qaradawi, próximo da Irmandade Muçulmana, não se importava que os fiéis consumissem a mesma carne dos judeus e cristãos.
Mas a globalização e a expansão de grupos integristas do Islã, somados aos interesses dos comerciantes, mudaram o cenário e fizeram emergir negócios e produtos de acordo com a filosofia Halal. Até mesmo um selo específico foi criado para certificar a carne produzida de acordo com os princípios da religião.
A decisão de países como o Irã e a Arábia Saudita de restringir as importações de carnes do Ocidente, contribuiu para o desenvolvimento de uma demanda por produtos Halal.
No entanto, até hoje o debate não está fechado e, com exceção de algumas regras comuns sobre o abate, o sistema Halal é motivo de controvérsia. A introdução da gelatina feita a partir do porco é um dos temas ainda polêmicos. As diversas correntes religiosas é que determinam o que pode ou não ser consumido.
De acordo com Libération, o faturamento dos produtos Halal na França é estimado entre € 5 bilhões e 7 bilhões ( R$ 20 bilhões a R$ 28 bilhões), o equivalente ao mercado dos produtos orgânicos. No mundo, o business atinge € 600 bilhões (R$ 2,4 bilhões). De acordo com a Organização de Cooperação Islâmica (OCI), esse valor deve triplicar nos próximos três anos.
"Muslim Way of Life"
Especialistas ouvidos pelo jornal estimam que uma classe jovem e sem problemas financeiros sustentam o crescimento desse comércio. Por meio do consumo Halal, eles querem mostrar conexão com o "muslim way of live" (estilo de vida muçulmano, em tradução livre do inglês).
Nos últimos anos, constata o jornal, o mercado acolheu uma diversidade de produtos adaptados à essa demanda, como pratos feitos à base de carne Halal, embutidos à vácuo e molhos para massas. As grandes empresas atacadistas também se adaptaram a esse modo de consumo. Apesar de que restaurantes de luxo também estão surgindo no meio urbano, são as 2.500 pequenas lojas para a comunidade muçulmana que garante a maior parte do faturamento do setor na França.
Mas o segmento não garante o sucesso de uma empresa. Libération lembra que uma rede de supermercados lançada em 2011 na França, que causou polêmica ao anunciar apenas produtos Halal, está em processo de falência.
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