BLACK QUARTA, DIA DE COMPRAS
COLUNA CARLOS BRICKMANN
(EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 25 DE OUTUBRO DE 2017)
Neste
país todo mundo se queixa. Só porque o Governo volta a investir,
colocando uns R$ 12 bilhões de capital em ações de apoio ao presidente
Temer, ficam criticando vendedores de votos e compradores de opiniões.
Injustiça!
Muito dinheiro trocou de mãos, mas civilizadamente, sem que até agora
alguém tenha sido apanhado em flagrante, como o senhor ridículo que
corria com a mala na rua. Uma transferência contábil – como a do Refis,
em que o Governo deixará de faturar pouco mais de R$ 2 bilhões, em
favor de Suas Excelências – não é tão inconveniente. Os de sempre são
beneficiados e transferem parte dos ganhos a seus parlamentares de
estimação, sem que bons amigos do presidente tenham de rechear e
entregar pacotes com suas próprias mãos. É, convenhamos, mais chique. O
efeito é o mesmo, garantir ao presidente os votos de que precisa para
garantir aos amigos, e aos amigos dos amigos, que a garantia continua. É
algo sólido: nada de la garantía soy yo. Emendas parlamentares
de R$ 15 milhões, cada? Dinheirinho para pequenas obras. É uma boa
economia: só se distribui a parte de cada um, sem que se gaste um
centavo na tal obra.
Há
o desconto de 60% nas multas ambientais. Justo: o prejuízo do Governo
com as multas não pagas será 60% menor. O Governo desiste de privatizar o
aeroporto de Congonhas: uma vaca com mais tetas tem mais a oferecer a
quem quer mamar. E sobra até para nós: cabe-nos pagar a conta.
Mamãe eu quero
O
caro leitor pode ficar tranquilo: Temer ultrapassa mais essa denúncia,
que deve ser votada hoje. Mas, se o resultado é certo e sabido, por que
tanta gentileza com os senhores deputados? Porque não ficaria bem, para
Temer, derrubar a denúncia com menos votos do que teve ao derrubar a
denúncia anterior. Para evitar que ele se mantenha no cargo dando a
impressão de que perdeu apoio, fez-se a Grande Queima Pré-Natalina de
Votos. Sabe como é, se prevalece a impressão de que o presidente se
enfraqueceu, vários parlamentares passarão a exigir ainda mais por seu
apoio. Evita-se então o vexame pagando adiantado para o presidente
parecer forte.
Muda algo? Muda: o dinheiro, por exemplo, muda do Tesouro para bolsos ávidos.
Mamãe, eu quero mamar
É
claro que, aparentemente, é mais fino oferecer favores transformáveis
em dinheiro do que dinheiro propriamente dito. Nem é preciso, por mais
substanciosas que sejam as quantias transferidas, alugar
apartamentos-cofre com um geddel de área construída para abrigar a fila
de caixotes de notas novinhas. Mas, por maior que seja a tolerância com
que se observe o mafuá das Excelências, o que está ocorrendo ultrapassa
largamente a fronteira do decoro: o PMDB, por exemplo, partido de Temer,
liberou seus deputados para apoiá-lo ou não. Traduzindo, o apoio ao
presidente é negociado voto por voto com seus correligionários, mesmo
sabendo-se que Temer foi presidente do PMDB, seu candidato em aliança
com Lula e Dilma, e é a única possibilidade que o partido tem de
permanecer no poder. Como esta é a última chance de derrubar o
presidente, cada deputado exige o que pode. O Governo não se preocupa
com isso: afinal, nós é que pagamos.
De tanto piscar olho
Na
luta contra a denúncia, Michel Temer já convenceu todos os que poderia
ter convencido (a oposição, convencida da derrota, decidiu tentar
impedir o início da sessão, negando o número necessário de deputados).
Mas há uma luta que Temer ainda terá de lutar, e com amplas chances de
ser derrotado: as centrais sindicais não aceitam a reforma trabalhista. O
motivo é o de sempre: com a extinção do Imposto Sindical, hoje cobrado
de todo assalariado do país, seja ou não sindicalizado, e entregue aos
sindicatos, só terá receita quem prestar serviços aos associados.
Receber, sim; trabalhar para ter sócios contribuintes é outra coisa, dá
trabalho. Centrais sindicais e sindicatos programam manifestações em
todo o pais em 10 de novembro, véspera da entrada em vigor da reforma
trabalhista. Só voltam atrás se o Governo lhes der outra receita no
lugar desta. E não se fale mal
apenas de centrais e sindicatos de assalariados. Centrais e sindicatos
patronais também estão pendurados no imposto.
Frase notável
Do ótimo site gaúcho Espaço Vital (www.espacovital.com.br): “Depois do apartamento de Geddel, entendi por que Lula queria um tríplex”.
Ficha imaculada
Preocupado
com o assassínio da turista espanhola María Esperança Jiménez Ruiz, na
Favela da Rocinha? Tranquilize-se: a Justiça concedeu liberdade
provisória ao PM que a alvejou. Diz a decisão: “O custodiado estava trabalhando, possui imaculada ficha funcional,não havendo indícios de que solto possa reiterar o comportamento criminoso ocorrido à luz do dia".
Nenhum comentário:
Postar um comentário