Opinião
O BUMERANGUE DO SUPREMO
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 6 DE MAIO DE 2018
O
Supremo reduziu os privilégios do foro privilegiado para deputados e
senadores: antes, um batedor de carteira que se elegesse só poderia
tomar processo se o Supremo aceitasse a denúncia e o Congresso o
autorizasse. Agora, depois da decisão do Supremo (que, embora mantenha
privilégios à vontade, vai no rumo certo), o foro privilegiado só vale
para o que ocorrer durante o mandato, e relacionado a ele. Bateu
carteira? Vai para o juiz de primeira instância. E todos têm pavor de
encontrar Sérgio Moro pela frente.
Beleza
– mas bumerangue vai e volta. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia,
decidiu tocar uma proposta de emenda à Constituição que completa a
decisão do Supremo: extingue o privilégio de foro de qualquer
autoridade, exceto quatro: presidentes da República, do Supremo, da
Câmara e do Senado. “Creio”, diz Maia, “que a Câmara vai aprovar o texto
como está, e colocar todos em igualdade de condições perante a lei”.
Como a proposta já foi aprovada pelo Senado, irá diretamente para a
sanção presidencial.
Mas
calma: como nenhuma reforma constitucional pode ser votada se houver
intervenção federal em algum Estado (e há, no Rio) a proposta tem de
aguardar que a intervenção termine. Mas pode ir tramitando enquanto
isso, de forma a estar pronta para votação assim que houver
possibilidade.
Embora
o foro privilegiado seja defensável, não pode ser para tanta gente. E é
bom que até ministro do STF seja julgado em primeira instância.
Igualando
A
decisão do Supremo sobre o foro privilegiado, embora no caminho certo,
atinge apenas os 513 deputados e os 81 senadores. Restam, com foro
privilegiado intocado, 58.066 pessoas. São governadores, ministros,
prefeitos, procuradores da República, promotores de justiça, deputados
estaduais, vereadores. A proposta de emenda constitucional que está na
Câmara tira de todo esse pessoal o benefício e os iguala ao cidadão
comum.
E
o benefício é bom: dos processos penais que caíram no Supremo, 20%
geraram absolvição, 79% foram devolvidos. E 1% deram condenação.
Misturando tudo
Há
quem se queixe de que o Judiciário e o Ministério Público andam
legislando e dando palpite na administração, que o Executivo abusa das
medidas provisórias, que também fazem parte da legislação. Agora tudo
isso pode ser institucionalizado: há hoje 33 policiais federais querendo
se eleger (um ao Senado, outros às Assembleias e à Câmara Federal,
conforme levantamento do site Poder360 (www.poder360.com.br).
Estão dispersos por 17 partidos. E há também os policiais que
habitualmente se elegem – como, em outras épocas, o deputado paulista
Erasmo Dias.
Lugar definido
O
Poder360 estudou a distribuição dos policiais federais. Um quer sair
pelo PSDB: nenhum pelo PMDB, nem por PSOL, PT, PSTU. Conclusão do
estudo: considerando-se que a maioria esmagadora dos pré-candidatos
optou por partidos à direita do arco político, a Federal é
majoritariamente de direita. Talvez, entretanto, a campanha desenvolvida
por petistas e associados contra a Polícia Federal e o Ministério
Público, na Operação Lava Jato, tenha contribuído para afastar muita
gente dos partidos lulistas.
Aposentadoria boa
O
presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, desembargador Gesivaldo
Brito, assinou na última quinta-feira o decreto judiciário que concede
aposentadoria voluntária ao motorista Lindenilson Leal de Almeida. Tudo
legal, correto, sem maracutaias: a aposentadoria do motorista
Lindenilson é de R$ 24.708,97 mensais. Entre os itens que formam os
proventos da aposentadoria, estão R$ 5.899,75 de adicional noturno. Nada
mais justo, considerando-se que Lindenilson continua aposentado no
período da noite.
O
caro leitor tem todo o direito de calcular quanto gasta o TJ baiano com
seus motoristas. E quanto é gasto com os motoristas aposentados.
Os problemas do Face
Quais
as consequências do vazamento de informações dos clientes pelo
Facebook, e por seu uso malicioso pela Cambridge Analytics? Houve
problemas na Bolsa, há protestos, o pai do Face, Mark Zuckerberg, fala
em mudanças. E a Toluna, sólida empresa internacional de pesquisas,
apurou que, no Brasil, 54% dos entrevistados atualizaram suas
configurações de privacidade, e 5% disseram ter encerrado suas contas.
“Os brasileiros, podemos ver pelos números, estão preocupados com a
privacidade de seus dados on-line, e tomam medidas para sentir-se mais
seguros”, analisa Luca Bon, diretor da Toluna para a América Latina. Os
números são imensos: de acordo com o Facebook, 102 milhões de
brasileiros o usam. Se 5% desistiram, a perda foi de cinco milhões de
clientes. Clique em https://www.dropbox.com/s/nb9uk0hhcfvkr0p/Report_Facebook_e_Cambridge_Analytica_04-11-2018.pptx?dl=0 para ver a pesquisa sobre o Face.
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