Uma das melhores matérias sobre a tragédia provocada pela Vale
em Brumadinho foi publicada neste final de semana pelo New York
Times. A matéria diz que “o dilúvio de lama tóxica se estendeu por
oito quilômetros, esmagando casas, escritórios e pessoas - uma tragédia, mas
dificilmente uma surpresa.” Segundo o NYT, existem 88 represas de rejeitos de
mineração similares à que desmoronou em Brumadinho, “enormes reservatórios de
rejeitos de mineração contidos por pouco mais que areia e lodo”. Segundo o
governo, 84 delas são tão ou mais vulneráveis que a do Córrego do Feijão.
Destas, quase 30 ficam diretamente acima de cidades e vilas onde moram mais
de 10.000 pessoas.
O diagnóstico do NYT é mortal: “Um reservatório fraco de rejeito
de mineração, construído o mais barato possível, situado em cima de uma
cidade. Problemas estruturais ignorados que poderiam indicar um colapso e
equipamentos de monitoramento que haviam parado de funcionar. E, talvez acima
de tudo, um país onde a poderosa indústria da mineração está livre, ou quase,
para fazer o que quiser."
Além de trazer fotos de satélite mostrando o caminho da lama, a
matéria explica de maneira simples e direta porque o assim chamado
reservatório se rompeu. “Começa em um pontinho pequeno e, talvez em um
segundo, já é uma faixa. Rapidamente a parede desaba e o reservatório vira um
inferno e a represa simplesmente desaparece.”
A matéria coloca o dedo em uma segunda ferida. Dada a falta de
fiscais do governo, “as mineradoras podem se autorregular, contratando
auditores independentes para verificar a segurança dos reservatórios em
inspeções periódicas - sempre pagos pelas mineradoras” - um claro conflito de
interesse onde o resultado só pode ser menos custo para a empresa e mais
risco para trabalhadores, populações e o meio ambiente.
O artigo termina com uma nota macabra. Diz que, ao longo de
várias reuniões com a comunidade, técnicos da Vale diziam que os
reservatórios eram super-seguros e que seus escritórios ficavam logo abaixo
da represa. “Nós seríamos os primeiros a morrer”.
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