Bom dia

Minhas histórias de vida

Foi numa viagem pelo mundo que fiquei próximo ao Gervásio Batista.fotojornalista, Gervásio viveu até ontem 96 anos, mais de 80 clicando o mundo. Cobriu guerras, conflitos, desfiles, fotografou autoridades. Praticamente todos os presidentes de Juscelino pra cá.
Acompanhando a fantástica viagem de Tancredo Neves, dias vividos entre Itália, França, Portugal, Estados Unidos, México, Peru e Argentina, pude privar do trabalho e então da amizade do nosso Gervásio Batista. Fui um dos 63 jornalistas que acompanharam o que parecia excursão de estudantes de segundo grau, tal a alegria entre todos.
Tancredo Neves "vendendo" um novo e esperançoso Brasil ao mundo, com o apoio de um Itamaraty cheio de brio e inteligencias, com Rubens Ricupero e Flexa de Lima. Futuros Ministros, parceiros, filhos, neto e dona Risoleta que salvou das dores um colega às vias com intensas dores de rins. Mas eu queria falar do Gervásio.
Em Lisboa, depois dos trabalhos junto ao comércio , a industria e ao universo politico portugues, num trem especial fomos a Coimbra. Um carro pros jornalistas, outro carro pra comitiva presidencial. Em Coimbra, o dr.Tancredo receberia o título de Doutor Honoris Causae. Uma honraria para poucos.
Na Universidade existe a sala dos Capelos. Ali são feitas as outorgas dos títulos. Mulher não entrava,à época. Uma sala com mil anos de tradição. Imprensa também não. Só a da casa pelo registro. E não adiantava dizer quem éramos. Não entra e pronto. Tradição é tradição. Capelo, é uma espécie de chapeu sem abas que representa, enquanto cobertura, a solenidade do gesto. Por sinal arrumaram um enorme que ficou frouxo na cabeça do dr.Tancredo.
Do lado de fora os estudantes de Coimbra com suas capas pretas, faziam a algazarra natural da juventude. Havia um clima de festa no ar. E era festa de fato. O Brasil sonhando com democracia. Pois bem. A solenidade terminou e o dr.Tancredo, cercado pelos estudantes e por nós jornalistas, vinha no meio de todos, sofrendo pra andar. Os fotógrafos enlouquecidos, sem angulos de como fotografar o presidente eleito com o capelo.

Foi aí que aprendi uma das grandes lições dos jornalismo, naqueles dias: Grite pra autoridade, se não puder trabalhar em paz. Foi o que fez nosso Gervásio Batista. Subiu na varanda de um dos corredores de Coimbra de onde vinham Tancredo e séquito e começou a gritar: Dr. Tancredo, dr.Tancredo, dr.Tancredim, para pra mim. É o Gervásio, o Gervazinho da Manchete.
Teatral e amigo, o dr.Tancredo parou, afastou um pouco os que o rodeavam, abriu os braços e com um sorriso dirigiu-se a Gervásio: Diga Gervásio! E assim deu com exclusividade a foto da primeira página da próxima edição da Revista Manchetes para o Gervásio Batista. 
Se derem uma chance, Gervásio vai fotografar Deus!

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