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Opinião

A gramática debochada do ministro

A apresentação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Twitter, “Meu Twitter, minhas regras”, em analogia ao slogan feminista “Meu corpo, minhas regras”, parece dizer respeito até mesmo às regras gramaticais. Suas mensagens continuam denunciando uma embaraçosa falta de intimidade com as letras, ainda mais constrangedora por emprestar um involuntário (?) ar de deboche à própria função que ele exerce.
Erros gramaticais são perdoáveis e muita gente os comete aqui ou acolá. Ocorre, no entanto, que a ortografia, por ser algo que se aprende mais pela leitura do que pelas regras em si, acaba sendo uma espécie de cartão de visita da pessoa que escreve.  Certas falhas denunciam deficit cultural, ausência de leitura, coisa que, aliás, Abraham já demonstrou em outras ocasiões. Confundir o nome do escritor Kafka (conhecido até de quem não o leu) com a iguaria da culinária árabe “kafta” (grafia corrente em restaurantes; na verdade, “cafta”, aportuguesamento do árabe “kufta”) não é algo fácil de relevar. É digno de esquetes de programas humorísticos popularescos.
Escrever “imprecionante” com “c” é algo que pode acontecer durante o processo de alfabetização –seja de criança, seja de adulto–, afinal, o som de “cê” pode ser grafado de diversas formas: com “s” de “sair” , com “c” de “certo”, com “ss” de “impressão”, com “ç” ou  “xc”, como em “exceção”. Com o tempo e o hábito da leitura, as pessoas naturalmente reconhecem as famílias de palavras (impressionante, impressionar, pressão, impressão, impresso) e a escrita se torna automática. Essa não deveria ser, portanto, uma questão para alguém que, tendo tido acesso à educação, ascendeu ao cargo de ministro da Educação.
Nessa posição, Abraham perde (ainda mais) credibilidade cada vez que desrespeita o vernáculo. Um pouco de leitura (de livros) pode ajudá-lo a pacificar suas querelas com a gramática. A cartilha “Caminho Suave”, recomendada pela Presidência da República, pode ser um bom começo.
Em tempos de elogio da “meritocracia”, fosse ele um motorista que não conhecesse as regras de trânsito, já teria sido demitido –a  menos, é claro, que seu chefe decidisse mudar o código de trânsito.

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