Um voluntário no CPLP da Cruz Vermelha

 

Cearense assume a presidência do Fórum de Países de Língua Portuguesa da Cruz Vermelha

A Cruz Vermelha é uma associação civil internacional sem fins lucrativos de socorro voluntário que auxilia os poderes públicos a lidar com tragédias. A instituição chegou ao Brasil em dezembro de 1908 e constituiu a sua vertente no país seguindo as convicções estabelecidas nas Convenções de Genebra. Para potencializar a união entre países que possuem o português como seu idioma oficial, foi criado o Fórum das Sociedades Nacionais de Países de Língua Portuguesa da Cruz Vermelha, o qual é composto por representantes de Cabo Verde, do Brasil, de Portugal, da Guiné Bissau, do Timor Leste, da Angola, de Moçambique e de Macau, que atua como estado observador na delegação. No dia 20 de junho deste ano, o cearense Júlio Cals tornou-se o primeiro brasileiro a assumir a presidência do Fórum, sendo indicado para delegar a articulação entre as nações para favorecer a intervenção em problemas socioeconômicos que acometem as 300 milhões de pessoas que habitam esses países. O novo líder participa da Cruz Vermelha Brasileira (CVB) no Ceará desde 2012 e, atualmente, também está cumprindo seu segundo mandato como presidente nacional da instituição, cargo para o qual foi indicado em 2017. O Jornal O Estado conversou com Júlio Cals a respeito do seu novo cargo e do impacto dessa conquista para o Ceará.

O ESTADO | Como a liderança brasileira no Fórum de países de língua portuguesa na Cruz Vermelha pode auxiliar no desenvolvimento da ajuda humanitária?
JÚLIO CALS | É algo que nunca aconteceu e agora voltamos de Genebra com essa grande novidade: a presidência de um fórum que representa mais de 300 milhões de habitantes. Eu acredito que essa liderança vai trazer o olhar internacional para esse fórum, mas, principalmente, para o abismo socioeconômico que todos esses países vivem.

O E. | Qual você acredita que seja a principal necessidade do Fórum atualmente?
J. C. | A principal necessidade é a gente conseguir andar como um bloco e levar, tanto para a Federação Internacional, quanto para os governos desses países, o grito de pessoas que realmente vivem uma situação de vulnerabilidade social gigantesca. Você imagina situações como a migração de pessoas que vivem na Angola, em Moçambique, no Timor Leste, em países devastados de forma socioeconômica; precisamos mostrar isso de forma transparente, de forma “nua e crua” e que as pessoas consigam enxergar realmente tudo o que se passa nesses países.


O E. | Qual é o seu principal objetivo como presidente do Fórum?
J. C. | O principal objetivo de um presidente no Fórum é mostrar que o português é uma língua poética e que precisamos ter respeito pelas pessoas que a falam. Em muitos movimentos, não só da Cruz Vermelha, as principais línguas são inglês e espanhol, mas nós vivemos em um bloco de países que movimenta 300 milhões de habitantes e estamos nos quatro cantos do mundo. Meu objetivo é levar a súplica deste povo e fazer com que as pessoas possam enxergar o nosso idioma como uma língua que carrega a resiliência de um povo que sofre, mas se levanta com um sorriso no rosto toda vez que é colocado em uma situação difícil.

O E. | Em entrevista, você citou que um dos seus objetivos era “aumentar ainda mais o alcance da língua portuguesa dentro e fora das sociedades da Cruz Vermelha”. Qual a importância de favorecer essa ampliação?
J. C. | Primeiramente, é levar a voz de 300 milhões de habitantes, fazer com que as pessoas entendam que o português também deve ser colocado como língua oficial em diversos instrumentos das sociedades, tanto da Cruz Vermelha quanto governamentais. É uma missão para mim que as pessoas entendam que é necessário colocar documentos em português e que ações de educação também devem ser colocadas nessa língua para que as pessoas tenham acesso, pois isso é democratizar e dar acesso a infinitas possibilidades.

O E. | Qual você acredita que possa ser o impacto da sua nomeação para a sociedade cearense?
J. C. | Eu gostaria muito que a sociedade cearense acreditasse que santo de casa opera milagre, pois, infelizmente, aqui no Brasil, santo de casa nem para o altar vai. O impacto poderia ser muito maior se não fosse somente o reconhecimento de uma liderança, mas sim o aumento da força com que nós acreditamos nos nossos. Isso nos faria acreditar que podemos mudar o mundo de mãos dadas e que os cearenses podem ser nomeados como líderes que irão ajudar nessa mudança.

O E. | Para você, qual é o principal desafio enfrentado pelos agentes da Cruz Vermelha no Brasil?
J. C. | O principal desafio é que os governos de todo o Brasil respeitem a maior instituição de ajuda humanitária do mundo da forma que ela precisa ser respeitada, porque aqui dentro a gente tem heróis de verdade, temos pessoas que se colocam à disposição para salvar vidas gratuitamente. Então, o problema que nós temos é, muitas vezes, o nosso voluntário ter que pegar um ônibus e não ter a gratuidade do transporte público e precisar tirar o dinheiro do bolso para ir ao local onde vai fazer uma ação humanitária. A Cruz Vermelha vive de doações e a gente não tem apoio financeiro dos governos, mas deveríamos ter, pois somos força auxiliar dos poderes públicos, nós chegamos aonde eles não chegam.

Por Gabriela Guasti

Nenhum comentário:

Postar um comentário