“Bolsonaro estará na Papuda e a extrema direita vai sabotar as eleições”, diz João Cezar
Extrema direita prepara boicote à disputa presidencial de 2026, concentrando forças no Senado e tentando deslegitimar o pleito, diz João Cezar de C. Rocha.
247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, o professor da UERJ João Cezar de Castro Rocha afirmou que Jair Bolsonaro dificilmente estará na disputa de 2026 e que sua ausência será usada pela extrema direita para contestar a legitimidade do processo eleitoral. “Agora o Bolsonaro… porque ele não estará na [cédula], ele estará na Papuda”, disse, em referência à expectativa de condenação judicial do ex-presidente. Segundo o historiador, a estratégia será transformar essa condição em um argumento de deslegitimação do pleito, criando a narrativa de que uma força política popular teria sido “alijada” da disputa.
O pesquisador destacou que, a partir dessa lógica, a extrema direita pretende esvaziar a eleição presidencial e transferir seu peso político para o Senado. O objetivo seria construir uma base sólida que permita enfrentar o Supremo Tribunal Federal e sustentar projetos de anistia ou confrontos institucionais. “O Senado para manietar o Judiciário”, afirmou, ao recordar declarações recentes de lideranças bolsonaristas. Ao mesmo tempo, governadores como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Júnior e Ronaldo Caiado são descritos nas redes bolsonaristas como parte do “sistema”, tese usada para justificar a ausência de apoio presidencial a qualquer candidatura alternativa.
Na avaliação de João Cezar, essa mudança de plano representa uma reedição de operações de desestabilização já vistas na América Latina durante a Guerra Fria. Ele relacionou as falas de Flávio Bolsonaro — que declarou que uma eleição sem o pai não teria legitimidade — ao discurso de Eduardo Bolsonaro, que, em conversas divulgadas pela Polícia Federal, chegou a mencionar uma esquadra americana como elemento simbólico de apoio externo. Para o professor, trata-se de uma estratégia articulada com setores do trumpismo nos Estados Unidos. “A tentativa de desestabilização [seria] em acordo com a Casa Branca do Trump”, disse, ressaltando que essa interferência configuraria crime contra a soberania nacional.
O pesquisador observou que a revelação dos áudios e mensagens pela Polícia Federal fragilizou a trama. Segundo ele, a exposição pública retira o fator surpresa e impõe riscos à articulação. Ainda assim, alertou para a continuidade do projeto. “Eu só voto no Bolsonaro, isto é, se o Bolsonaro não estiver na cédula eleitoral, eu considero que a oposição foi alijada. Se a oposição foi alijada, a eleição não tem legitimidade”, explicou, apontando que esse enredo já circula intensamente em grupos de Telegram e WhatsApp ligados ao bolsonarismo.
João Cezar defendeu que o avanço das investigações e o julgamento marcado para setembro resultem em prisões. “Jair Messias Bolsonaro, Walter Braga Netto, Augusto Heleno… prisão, prisão para todos, não há meio termo”, disse, acrescentando que conciliar neste momento abriria espaço para um novo ciclo de instabilidade. Para ele, somente a punição rigorosa pode interromper a escalada golpista que busca naturalizar o absurdo e enfraquecer a democracia.
A leitura do professor é de que a extrema direita aposta na ausência de Bolsonaro como catalisador de uma crise política em 2026. O slogan “só voto no Bolsonaro” não teria como objetivo sua candidatura, mas a criação de um impasse: sem ele na urna, a eleição seria apresentada como ilegítima. “Ele estará na Papuda”, resumiu João Cezar, enfatizando que a prisão do ex-presidente não encerraria o ciclo bolsonarista, mas inauguraria uma nova fase de contestação institucional que exigirá resposta firme das instituições.
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