FAMÍLIA E PODER NO CEARÁ COLONIAL - OS POMPEU DE SANTA QUITÉRIA, SOBRAL, IPU E FORTALEZA: “Nenhuma parentela soube se adaptar mais do que esta às mudanças acarretadas pela política de seu tempo. Deixaram os sertões secos de Santa Quitéria e estabeleceram-se em definitivo na capital da província do Ceará. Segundo Nertan Macedo, antes de se especializar no preenchimento dos mais altos postos públicos de poder provincial, o clã dos Pompeu se mistura a e se depura de muitas outras parentelas espalhadas por toda a região norte e oeste da província do Ceará no início do século XIX.
Seus brotos se esparramavam desde os areais de Granja e Camocim, passando pelos armazéns de “secos e molhados” de Sobral, penetrando nos currais de gado dos sertões do Ipu, e terminam por se alojar nos gabinetes do parlamento provincial e geral, de modo tão absoluto que produziram cinco nomes de peso para o cenário político do Império e do início da República: Thomaz Pompeu de Souza Brasil (pai), Thomaz Pompeu de Souza Brasil (filho), Joaquim de Oliveira Catunda (sobrinho daquele), e, por adesão matrimonial, Antonio Pinto Nogueira Accioly (genro). Pelo alto grau de endogamia e exogamia para fins político-partidários, pela “bacharelização” de seus membros, e pela ocupação efetiva dos mais altos postos de poder no período, os Pompeu Brasil formam, sem dúvida, o mais bem sucedido “clã familiar” do Ceará deste período.
Esta fala de Thomaz Pompeu sintetiza as estratégias de sua família para ampliar o seu poderoso capital político:
Minha filha Maria [Tereza de Souza Accioly] nasceu a 11 de novembro de 1849, foi batizada pelo vigário Carlos Augusto Peixoto de Alencar. Foram seus padrinhos, seus tios, meu cunhado, o Coronel João Antônio de Mesquita Magalhães, e minha irmã Maria Joaquina de Souza Magalhães [...]. O meu filho Hildebrando nasceu a 11 de dezembro de 1853, [...] foi batizado em casa, [...] foram padrinhos o Dr. Vicente Alves de Paula Pessoa e a minha sobrinha Joana de Oliveira Catunda, filha do meu irmão Antônio Pompeu de Souza Catunda [pai e Joaquim de Oliveira Catunda], no dia 2 de janeiro de 1854.
Tios, sobrinhos, irmão, primos e outros parentes reforçavam ainda mais o sentimento de identidade através da costura de laços de afetividade que iam muito além do município de atuação destas famílias. Percebe-se que as relações matrimoniais, assim como o compadrio, eram moedas políticas empregadas pela família para reforçar a coesão grupal e para conquistar e preservar o poder e o prestígio políticos. Segundo Macedo:
Do Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, pai dos Doutores Thomaz Pompeu e Souza Brasil (Júnior), Antônio Pompeu, Hildebrando Pompeu e Dona Maria Tereza de Souza Acioly, mulher do Comendador Antônio Pinto Nogueira Acioly, que foi Vice-Presidente da Província, Senador da República e três vezes Presidente do Ceará, descendem Thomaz Pompeu Neto, [...] os Senadores Thomaz e José Acioly, o Dr. Thomaz Pompeu Sobrinho, Presidente do Instituto do Ceará, o Embaixador Hildebrando Acioly, [...] e Dona Branca Acioly Sá, que foi casada com o Senador Francisco Sá, o qual, por duas vezes, ocupou o cargo de Ministro da Viação (era
mineiro).
Como fica evidente, os Pompeu atrelaram-se ao poder e participaram ativamente da construção da máquina pública provincial e estadual; pelo compadrio e pelo matrimônio entrelaçaram-se com os Paula Pessoa de Sobral e com os Nogueira Accioly da região do Icó.
Pompeu era “compadre” de Vicente de Paula Pessoa (sabemos que o compadrio era uma forma de ampliar a família), e sogro de Accioly (é possível que a união de Teresa de Souza, filha do Pe. Pompeu, como o então jovem e proeminente promotor público de Icó, Antônio Pinto de Nogueira Accioly, tenha unido às parentelas do norte e do sul do Ceará, união que deu a base de apoio à futura oligarquia Aciolina, na fase republicana de nossa história). Esta parentela soube, como nenhuma outra, adaptar-se aos novos tempos, construir relações sóciopolíticas e imiscuir-se dentro da estrutura do Estado, a tal ponto que será necessário uma revolta de parte da elite política e de boa parte da população da capital para desalojá-la das entranhas do poder já no século XX”.
Fonte: Trecho da monografia “FAMÍLIA E PODER: A construção do Estado no noroeste cearense do século XIX”, de Raimundo Alves de Araújo. Imagem: Igreja Matriz de Santa Quitéria, Santa Quitéria Ceará.
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