Ato realizado tradicionalmente no 7 de setembro, o "31º Grito dos Excluídos e Excluídas" ocorreu em Fortaleza e outras cidades brasileiras nesse domingo (7) destacando o combate à exclusão e às desigualdades sociais, a crise climática, a defesa da democracia e da soberania nacional, entre outros assuntos.
Com o tema “Vida em primeiro lugar” e lema “Cuidar da Casa Comum e da Democracia é luta de todo dia”, a mobilização na Capital cearense contou com a participação de pastorais sociais, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), sociedade civil, sindicatos, partidos políticos de esquerda e diversos movimentos sociais. O ato ocorreu pela manhã, tendo início na Praça da Paz Dom Hélder Câmara, no bairro Vicente Pinzón. Em seguida, os manifestantes caminharam com bandeiras e faixas até a Comunidade Raízes da Praia, no mesmo bairro.
O Grito dos Excluídos deste ano manifestou apoio a pautas defendidas pelo governo do presidente Lula (PT), como o fim da escala 6 x 1; a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação dos super-ricos. O ato promoveu nacionalmente um plebiscito popular sobre esses temas.
A mobilização de 2025 foi ainda mais politizada do que de costume. Manifestantes pediram a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) - que está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) pela chamada trama golpista - e criticaram a proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 e demais ações contra a democracia. Parlamentares, lideranças e dirigentes de partidos de esquerda marcaram presença no ato.
"O Grito sempre marcou a luta em defesa da democracia e da soberania. E hoje a gente está aqui na luta em defesa ainda maior da democracia, contra a anistia que os golpistas querem aprovar no Congresso para livrar Bolsonaro da cadeia. Para nós, a anistia é impunidade e a gente não vai aceitar nenhuma tentativa de continuar o golpe orquestrado em janeiro de 2023. Para nós, a aprovação da anistia é a continuidade do golpe. Então, a gente está aqui para dizer que não vai ter anistia, que queremos Bolsonaro e todos os golpistas na cadeia", disse a deputada estadual Larissa Gaspar (PT).
O ato também abordou questões do cenário internacional, com críticas às tarifas impostas aos produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e ameaças à soberania nacional, além de apoio ao povo palestino em meio à guerra entre Israel e Hamas.
Usina de dessalinização
Em Fortaleza, o Grito dos Excluídos ainda chamou atenção para o projeto da usina de dessalinização, a Dessal do Ceará, prevista para ser instalada na região da Praia do Futuro. Por esse motivo, a organização do evento escolheu o local do ato. A iniciativa é da Cagece, vinculada ao Governo do Estado. Moradores temem que possam ter direitos violados devido à instalação da usina, com a possibilidade de remoção dos que ali vivem. Outra questão são os possíveis impactos ambientais.
"A gente acredita que (a obra da usina) fere o licenciamento ambiental, traz impactos ambientais muito perversos para a região da Praia do Futuro e, sobretudo, para as comunidades locais. Há diversas ocupações ameaçadas em que as unidades habitacionais ainda não foram solucionadas. Então não dá pra pensar num projeto como esse sem entender os impactos ambientais e, sobretudo, as medidas habitacionais para as famílias", falou a vereadora de Fortaleza, Adriana Gerônimo (Psol), que participou do Grito.
Larissa Gaspar defendeu o projeto da usina como necessário, ressaltando que ela trará "soberania hídrica" ao Ceará, que convive com secas e precisa de medidas que garantam água à população, mas sugeriu cautela nesse processo.
"Ao mesmo tempo que a gente precisa de uma usina de dessalinização, a gente precisa garantir também a preservação da natureza, do meio ambiente e a dignidade das pessoas que estão dentro do território. Construir um equipamento muitas vezes implica remoção e, se isso precisar ser feito, tem que ser feito com toda a delicadeza possível, com toda a estratégia para garantir a realocação dessas pessoas, para evitar violações de direitos. São direitos que precisam ser todos conciliados: o acesso à água; o acesso à moradia e a preservação da natureza".
Por Igor Magalhães do jornal OEstadoCe
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