Opinião de Artur Figueiredo
Jornalista e professor, com especialização em comunicação. Colaborador do portal Yahoo, comentarista, colunista: rádios Poliesportiva, Metropolitana AM 1070, redator do portal Torcedores.com, Assessoria de Comunicação da equipe União Mogi e colunista do jornal Gazeta Regional.
Ex-dirigente do PDT fala sobre os bastidores do racha do partido com Ciro Gomes
Ciro anunciou a saída do PDT neste sábado
Na última sexta-feira (17), Ciro Gomes anunciou sua saída do PDT (Partido Democrático Trabalhista) para se tornar candidato pelo PSDB (Partido Social Democrático Brasileiro), sigla da centro-direita, como opção direta para a disputa eleitoral, fazendo oposição ao PT (Partido dos Trabalhadores) e ao presidente Lula.
A notícia repercutiu em diferentes frentes. Parlamentares e ex-dirigentes partidários comentaram o assunto. Gabriel Cassiano, ex-dirigente do PDT-SP, contou em detalhes todo o processo de desgaste de Ciro — principal candidato do partido à Presidência da República em 2022. Economista, ele atua hoje como Head Comercial no MW Bank.
Eleição à presidência, em 2022
“Articulei junto a listas de filiados do PDT para que os brizolistas fossem às redes sociais pedir voto útil na candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (principal nome da história da esquerda brasileira, eleito duas vezes presidente) contra a ameaça de golpe de Estado de Jair Bolsonaro (ex-presidente, candidato do PL, Partido Liberal, que buscava a reeleição). Imaginava uma tentativa de golpe caso perdesse as eleições — fato que se confirmou posteriormente”.
Cassiano destacou que, para o fim da polarização, deveria haver uma reunião entre partidos de esquerda, centro-esquerda e progressistas, a fim de formar uma aliança capaz de derrotar o bolsonarismo.
O racha entre Ciro e pedetistas foi se consolidando desde a derrota no 1º turno de 2022, quando Ciro perdeu para Lula e Bolsonaro. O apoio de Ciro a Lula no segundo turno foi constrangedor, já que o petista havia sido o principal alvo de suas críticas em diversos embates.
Para o ex-pedetista, a união seria a única forma de derrotar não apenas a direita, mas também de defender a democracia. “Nós, do campo progressista, precisávamos estar todos juntos com o presidente Lula para derrotar nas urnas eleitoralmente, mas, acima de tudo, politicamente, a ameaça golpista”.
Mudança de partido
A vaidade foi a principal arma para a própria destruição de Ciro, afirma Cassiano: “O ego dele foi maior que todo o projeto de desenvolvimento que ele tentou criar e que eu o ajudei a construir com algumas figuras do pensamento econômico e sociológico brasileiro. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que hoje se encerra uma novela, mas começa outra, com Ciro indo provavelmente para o PSDB, numa articulação de Aécio Neves e Tasso Jereissati, para ser candidato”.
Segundo ele, Ciro passou de um projeto progressista, nacionalista e trabalhista para uma proposta de oposição com valores de caráter direitista.
Outro ponto citado por Cassiano foi o fato de Ciro ter se perdido no campo das ideias e do planejamento eleitoral, sendo supostamente um candidato viável para fugir da polarização entre lulistas e bolsonaristas. Entretanto, já se mostrava nas pesquisas como terceira via. Ex-ministro de Lula, tentou sustentar o antipetismo, direcionando seu discurso ao eleitorado moderado e a uma corrente de centro-direita.
As contradições de Ciro
“Escancarou uma falha estratégica de pensamento e de organização política do próprio Ciro. Veja: ele tinha tudo para ter sido presidente em 2018. Bastava ter aceitado fazer uma composição com o PT e Lula, aceitado ser vice de Haddad (atual ministro da Fazenda), que notoriamente não poderia disputar a eleição. Ele assumiria como protagonista, liderando a chapa — algo que o PT, numa articulação feita pelo próprio presidente Lula, teria que aceitar pela primeira vez: apoiar um candidato do PDT à Presidência.
Mas, quando Mangabeira convenceu Ciro de que poderia enfrentar os petistas sem o apoio do PT e ficar à frente de Haddad ainda no primeiro turno, para disputar o segundo contra Bolsonaro, ele acreditou. Isso foi o grande problema, que se traduziu em números: uma votação vexatória, menor que cinco pontos, em 2018, quando Lula — preso — liderava as pesquisas”, sintetizou.
A falta de diálogo com a própria esquerda e com a extrema direita se refletiu nas contradições e na incapacidade de compreender o protagonismo conquistado pela centro-esquerda, representada por Lula, e pela extrema direita populista, representada por Bolsonaro, destacou.
Expulsão do PDT
“Fui expulso do PDT em 2022 porque articulei e encabecei o manifesto dos trabalhistas que pediam voto útil dentro do partido, orientando suas bases e seguidores nas redes sociais a apoiar o presidente Lula no primeiro turno, contra a intenção golpista que Bolsonaro já articulava ao não aceitar perder a eleição.
Acabei sendo expulso por isso, mas sempre considerei o PDT minha segunda casa. Não foi diferente agora, com a pressão interna no partido que resultou na minha saída, motivada por Ciro Gomes”, finalizou.
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