O governo federal incluiu o setor entre os eixos estratégicos da nova Política Industrial da Saúde, lançada neste ano para incentivar a produção nacional de tecnologias essenciais, reduzir a dependência de importações e fortalecer o SUS.
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Impulsionada por essa agenda e pela equiparação tributária prevista na Reforma Tributária, a tecnologia médica Made in Brazil vem ampliando sua presença global.
De acordo com dados da Abimo, o setor já exporta para mais de 180 destinos e vem consolidando espaço em mercados exigentes como Europa e Ásia, buscando reforçar o papel da produção nacional como símbolo de autonomia e competitividade internacional.
Para Larissa Gomes, gerente de Projetos e Marketing da Abimo, a aposta em tecnologia Made in Brazil já está demonstrando que o país tem capacidade de disputar mercados altamente sofisticados.
"Vimos isso com empresas brasileiras que conquistaram espaço em regiões extremamente competitivas, como a China e os EUA. No caso da China, apenas cinco fabricantes no mundo têm registro para determinados produtos de alta complexidade."
Entre janeiro e agosto deste ano, as exportações brasileiras de dispositivos médicos somaram US$ 761,6 milhões, um crescimento de 6,8% em relação ao mesmo período de 2024, com avanço em todos os segmentos — reabilitação (+26,6%), odontologia (+8,1%) e laboratório (+6,3%) —, de acordo com dados da ABIMO.
Segundo a entidade, o desempenho reflete o fortalecimento tecnológico e regulatório da indústria, reconhecido por autoridades sanitárias internacionais. O setor movimenta mais de US$ 10 bilhões por ano.
“O conceito de Tecnologia Médica Made in Brazil representa um salto de maturidade para o país. Significa investir em inovação e qualidade com base na confiança regulatória que o Brasil já conquistou, e transformar essa competência em vantagem competitiva global”, afirma Gomes.
O setor destaca que a Reforma Tributária poderá corrigir uma distorção: hospitais públicos e filantrópicos passarão a ter alíquota zero também nas compras de dispositivos médicos nacionais, e não apenas nas importações.
Para a Abimo, a medida cria condições mais equilibradas de concorrência e deve estimular a produção local de equipamentos hospitalares, materiais cirúrgicos, produtos para diagnóstico, próteses e instrumentos odontológicos e laboratoriais.
"Nosso objetivo não é autossuficiência isolada — é competitividade global, com uma indústria capaz de inovar, exportar e atrair investimentos. O Brasil já é competitivo e tem espaço para crescer em segmentos como reabilitação, odontologia e médico-hospitalar, todos com aumento nas exportações em 2025. Entretanto, falta o setor público voltar a ser comprador. Sem esse mercado, torna-se difícil uma empresa ser inovadora", ressalta Gomes.
Desafios pela frente
A Abimo defende uma política permanente de incentivo à produção local, modernização hospitalar e inovação tecnológica. Além de defender que o fortalecimento da cadeia produtiva de dispositivos médicos é estratégico não apenas para a economia, mas para a sustentabilidade do sistema público de saúde.
Entre as propostas apresentadas pela Abimo ao governo federal está a criação de linhas de crédito e programas de financiamento voltados à modernização do parque tecnológico hospitalar, com prioridade para a aquisição de equipamentos nacionais.
Segundo a entidade, a medida contribuiria para reduzir o déficit comercial do setor, gerar empregos e ampliar o acesso da população a diagnósticos e tratamentos de qualidade.
A entidade também aponta que a alta carga tributária e a defasagem da tabela de remuneração do SUS seguem entre os principais entraves para o crescimento do setor.
Além de defender uma revisão dos valores pagos pelo sistema público e maior previsibilidade regulatória, de forma a garantir sustentabilidade às empresas que abastecem hospitais e clínicas em todo o país.
“Fortalecer a produção local é mais do que uma pauta industrial — é uma política de Estado para garantir autonomia, qualidade e acesso à saúde. Incentivar a indústria nacional assegura o fornecimento contínuo de equipamentos, reduz custos e transforma investimentos públicos em resultados reais para a população”, enfatiza a gerente de Projetos e Marketing da entidade.
Tecnologia para lidar com adversidades
A inovação tecnológica tem sido uma das principais apostas do setor para lidar com situações adversas.
O tarifaço — impostos pelos EUA no primeiro semestre —, por exemplo, afetou pontualmente os segmentos de equipamentos médicos, odontologia e reabilitação. Segundo a Abimo, a indústria respondeu com diversificação de mercados.
A entidade afirma que mesmo com a aplicação das tarifas pelos EUA, o Brasil não apenas manteve seu volume total de exportações, como registrou crescimento de 6,83% no acumulado do ano e aumento de 15% em agosto em relação ao mesmo mês do ano anterior.
"Houve avanço significativo em destinos como Europa, Oceania e América Latina, além da entrada em mercados estratégicos como a China, que hoje já é o principal destino dos produtos brasileiros na Ásia [...] Tecnologia brasileira forte significa menos dependência de um único mercado e mais capacidade de competir globalmente, mesmo em cenários adversos", complementa Gomes.
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