
Aproximadamente 200 mil pessoas residentes no exterior votaram nesse domingo para ajudarem a eleger o presidente da República. A eleição se deu em 154 municípios de 86 países espalhados pelos cinco continentes do mundo. A votação é possível em qualquer local no exterior que possua mais de 30 eleitores escritos.
Os três maiores eleitorados brasileiros são nas cidades de Nova York, com 21.076 pessoas; Lisboa, com 12.036; e Boston, com 12.330 eleitores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As urnas do Japão, China, Nova Zelândia, Austrália, Cingapura, Coréia do Sul, Filipinas, Hong Kong, Indonésia, Malásia, Tailândia, Taiwan, Timor Leste, Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes, Hungria, Índia, Israel, Jordânia, Noruega, República Tcheca, Romênia, Rússia e Turquia foram as primeiras a serem fechadas, de acordo com balanço distribuído pelo TSE.
Equador
Em Quito, brasileiros foram às urnas e opinaram sobre a crise no Equador. Três dias após a rebelião policial que fez o governo decretar estado de exceção no Equador, brasileiros que vivem no país foram à embaixada brasileira em Quito no domingo, 3, para votar na eleição presidencial brasileira. “O fato de poder ajudar a eleger o presidente do nosso país, seja ele quem for, é uma forma de participar do desenvolvimento do Brasil”, define a comerciante Maria Helena Rapoles, que vive há 38 anos em Quito e votou pela terceira vez no país.
A tradutora Stela Machado, há 25 anos no Equador, concorda. “A gente ama o Brasil e quer participar da política.” Sobre a política no país, que disse acompanhar diariamente pelos canais internacionais e sites de notícia, ela espera que o pleito traga mudanças. “Espero que o ganhador seja sobretudo um promotor da paz e de princípios morais. Tem muita corrupção atualmente no Brasil. Um país tão lindo, mas com tanta deliquência”, lamentou.
Estados Unidos
Com 21.076 eleitores distribuídos em 54 seções, Nova York é o maior colégio eleitoral fora do Brasil. O número representa um crescimento em relação à última eleição, quando estavam registrados 12.657 votantes. No restante dos Estados Unidos, estão aptos a votar mais 45.864 eleitores. Depois de Nova York, o maior número de votantes no exterior, é Lisboa, onde em 32 seções poderão votar 12.360 brasileiros.
A votação em Nova York, foi feita até às 18h (horário de Brasília), no Metropolitan Pavilion, 125 West 18th street, no Chelsea. Segundo o cônsul do Brasil em Nova York, embaixador Osmar Chohfi, o centro de convenções foi alugado para atender o grande número de brasileiros que votaram na cidade. ” Aqui nós podemos atender a todos e fica mais organizado” , disse.
Para Osmar Chohfi, o aumento do número de eleitores em Nova York demonstra o interesse que a comunidade brasileira no exterior tem no que acontece no Brasil. ” É o interesse em participar das grandes decisões do futuro do nosso país”, analisou.
Para fazer a entrega dos títulos dos eleitores que pediram transferência do seu local de votação para a cidade, o Consulado brasileiro em Nova York montou um esquema com horário especial de atendimento durante todo o mês de setembro até o dia 1º de outubro e a entrega foi feita também em postos itinerantes do Consulado. Mas isso não foi suficiente para evitar que muitos eleitores deixassem para a última hora e só deixaram para pegar os títulos ontem, na entrada do centro de convenções. A entrega foi feita por funcionários do consulado e na sequência os eleitores foram encaminhados às seções.
O único problema ocorrido foi com a eleitora Edna Vieira, que mora em Long Island. Ela entrou na fila para receber o título e após mudarem o local para a entrega dentro do centro de convenções ela reclamou por achar que o serviço estava demorando. Edna começou a discutir com uma funcionária. Para evitar maiores tumultos com outros eleitores que aguardavam atendimento, foi levada para outra parte do Metropolitan Pavilion e atendida pelo próprio Consul Osmar Chohfi, que é também o juiz eleitoral no colégio de Nova York. Mesmo sabendo que poderia votar apenas com um documento com foto, Edna fez questão de pegar o título. Depois de receber o documento e votar, acabou pedindo desculpas ao embaixador pelo tumulto.
Quem está fora do Brasil só pode votar para presidente e se não comparecer ao local de votação também é obrigado a apresentar, em no máximo 60 dias, uma justificativa ao cartório eleitoral. Não é permitido o voto em trânsito e nem justificativa no próprio dia da eleição. Aqui em Nova York trabalharam, nesse domingo, cerca de 300 mesários, além dos 40 funcionários escalados para a organização e o apoio da votação.
Portugal
Segundo o cônsul-geral do Brasil em Lisboa, Renan Paes Barreto, em 2002 e 2006 cerca de 50% dos que se credenciaram não compareceram. A cidade amanheceu e permaneceu chuvosa durante todo o dia. Além disso, as eleições ocorreram no meio do feriado prolongado da proclamação da República em Portugal, comemorada na próxima terça-feira (5). Um terceiro fator que pode diminuir a participação é a distância: quem mora na Ilha da Madeira ou nos Açores, por exemplo, teve de se deslocar até a capital para votar.
Muitos eleitores estavam com títulos antigos, com o número da seção errado. O Consulado-Geral do Brasil em Lisboa estava fazendo a distribuição dos documentos novos no saguão de entrada do prédio onde acontece a votação. “Uma grande parte não foi recolher os títulos, que estavam disponíveis desde junho”, diz o cônsul. A situação gerou filas e protestos. Por volta das 11 horas, cerca de 500 pessoas se aglomeravam no local. Pouco depois, listas com os nomes dos eleitores os números das seções foram colocadas na entrada. “Isso ajudou a dispersar”, afirmou Barreto.
“Foi muito fácil. Havia indicações, as pessoas foram muito solícitas. Votei e peguei meu título novo em menos de 20 minutos”, disse a operadora Denise Toledo de Carvalho, de 42 anos, que votou por volta das 13h. “A organização está boa”, disse a comerciante Nancy de Castro, que compareceu de verde e amarelo. “Eleição, futebol… em todas as ocasiões eu estou de Brasil. Ainda que não trouxe a bandeira.”
A avaliação do cônsul é positiva. “Temos o segundo colégio eleitoral fora do Brasil”, diz. Em razão do número elevado, votação acontece na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e não no consulado ou na embaixada como em anos anteriores. Não houve, até as 15h, registro de problemas com as urnas.
Informações desencontradas fez com que eleitores reclamassem da demora na votação em Lisboa. “Todos os anos em 10 minutos estava resolvido”, disse o pintor de móveis Cleosmar Ferreira Lima, de 43 anso, que já aguardava o dobro de tempo na fila. O motivo é a mudança de seções eleitorais por causa do recadastramento dos títulos de eleitor. Assim, quem foi votar com o título antigo precisava descobrir na hora qual é a seção em que vai votar – o número anterior não vale. Os documentos novos, com o número certo, estavam sendo distribuídos no local da votação, o que tem causado filas.
Cerca de 400 pessoas aguardavam por volta das 10h30. Não havia, nas salas de votação, listas com os nomes das pessoas que votavam ali – as relações foram colocadas às 10h55 na entrada da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde ocorreu a eleição. A votação teve início às 8h.
“Falaram para mim que eu tinha que trocar o meu título. Estou aqui desde 2001 e nunca teve problema”, informou a empregada doméstica Ana Valentim, de 46 anos, que pediu um intervalo à patroa para votar. “Causa uma dificuldade. Das outras vezes foi rapidinho”, conta. “Eu não sabia. Me disseram para pegara fila para pegar o título”, disse a também empregada doméstica Márcia Reis, de 49 anos, que pela primeira vez vai votar em Portugal. Segundo o vice-cônsul Ernando, os títulos estão disponíveis há 3 anos no consulado, mas as pessoas deixaram para a última hora. Assim como no Brasil, o título não é indispensável para votar. Por isso, em Lisboa, há funcionários a percorrer as filas indicando o novo número de seção aos eleitores, para que esses possam retirar o novo documento em outra oportunidade.
Lisboa tem 12,4 mil votantes, sendo o segundo colégio eleitoral fora do Brasil. O número de eleitores em Portugal triplicou desde 2006, para 23,2 mil.
Japão
A votação para presidente começou em clima de tranquilidade em Tóquio. Um total de 11.827 eleitores foram esperados nesse domingo (3), nas 35 seções instaladas em sete províncias japonesas. Somente em Tóquio, estão cadastradas cerca de 2.700 pessoas.
Pedro Hideo Miura, 39, e o sogro Nelson Tetuia, 64, eram os primeiros da fila. Eles chegaram às 6h na porta do Consulado-Geral do Brasil na capital japonesa. “Vim por obrigação, pois não tenho acompanhado as campanhas dos canditados a presidente”, confessa Pedro. Os dois brasileiros fazem parte dos 11.827 eleitores no Japão que compareceram às urnas neste domingo para votar.
Este ano, as eleições presidenciais foram realizadas, além dos postos consulares, em cidades com grande concentração de brasileiros. O vice-cônsul Gustavo Henrique Sachs prevê um comparecimento significativo de eleitores. “Nosso número total de eleitores aptos a votar aumentou quase 12 vezes desde a eleição de 2006 (de cerca de 500 eleitores para quase 6 mil). Será a maior eleição de todos os tempos na jurisdição do Consulado-Geral do Brasil em Tóquio”, reforçou o diplomata.
Poderão votar fora do Brasil os eleitores que requereram a transferência do domicílio eleitoral para o país onde vivem. Dos 135.804.433 eleitores aptos a votar, 200.392 r requereram transferência do domicílio para os países onde vivem atualmente. Os eleitores que vivem no exterior só poderão votar para o cargo de presidente da República, apesar de as eleições deste ano serem também para governadores, senadores e deputados estaduais e federais.
Marcos Aparecido Juliano, 42, está no Japão há 19 anos e pela primeira vez participou das eleições no país. Apesar de ter justificado a ausência nas eleições passadas, ele diz que sempre acompanhou a evolução da política brasileira, pois considera importante a participação de todos nas eleições, mesmo daqueles que vivem fora do Brasil há algum tempo. “Todos querem voltar à terra natal um dia”, justificou. Joyce Escames, 36, é da mesma opinião. Ela pensa em voltar em breve ao Brasil e por isso defende ser importante a participação dos que moram fora do país na escolha do presidente. “Além disso, tudo o que acontece lá acaba refletindo nas nossas vidas aqui”.
Eliane Watanabe e o marido Pedro fazem coro com Joyce e Marcos Aparecido. Com dois filhos pequenos, eles torcem para que o Brasil evolua sempre e seja uma opção para os filhos quando crescerem. “Somos brasileiros e, de alguma forma, também ajudamos a construir nosso país, mesmo estando longe”, diz Eliane. Enquanto esperava na fila, Ricardo Yukio Reis Iizuka, de 24 anos, era orientado pelo pai. Além de ser a primeira vez que participava de uma eleição, outro fato que pesava para ele era não compreender muito bem o idioma materno. Ricardo faz parte de um grupo de brasileiros que foi ao Japão ainda criança e só estudou em escolas japonesas. “Cheguei com cinco anos e sempre me comuniquei com meus pais em japonês”, conta. Mesmo assim, ele fez questão de acordar cedo e ir votar. “Acho importante participar da escolha do presidente, pois somos todos brasileiros e temos de cuidar do nosso país”, defende. “Mesmo que a gente resolva não voltar mais para o Brasil ou não acompanhe mais a política de lá, temos de cumprir nosso papel”, emenda.
Outra jovem que também entende pouco o português é Simone Emy Murai Takasaki, de 22 anos. Acompanhada da mãe, ela teve de ser orientada para não anular o voto. “Sinto que sou mais japonesa do que brasileira, mas acho importante participar das eleições e poder decidir o futuro do nosso Brasil”, justificou. Ricardo Yukio foi rápido na hora de votar graças à ajuda do pai. Simone não conhecia nenhum dos candidatos, por isso a mãe teve de ajudá-la na decisão.
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