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Dom Panico afirma em carta que chorou por Padre Murilo



Crato(CE) – Macário Batista enviado especial
Por dois dias seguidos tentamos falar com o Bispo da Diocese do Crato, dom Fernando Panico, para ter dele um posicionamento sobre o mal estar que tomou conta de Juazeiro do Norte, com a ação movida pela Diocese contra a venda de um terreno feita pelo saudoso Pároco da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, Padre Murilo de Sá Barreto, o maior bem querer legado pelo Padre Cícero Romão Batista a seus seguidores e hoje, aos milhões de romeiros que anualmente buscam ajuda e refrigério na imagem do Santo do Nordeste.
Desde companheiros de imprensa até pessoas ligadas ao Bispo e servidores da Diocese, vem a informação de que Dom Panico estaria doente e, daí, não poder falar com ninguém da imprensa. Isso faz imaginar que amanhã, dia 20, quando de celebra a memória do Padre Cícero, com a tradicional missa criada por Monsenhor Murilo de Sá Barreto e que reúne romeiros do Brasil inteiro, que o bispo não participe da celebração. Em Juazeiro do Norte, até mesmo fiéis admiradores do Padre Murilo, temem que o povo faça alguma represália ao Bispo durante a santa missa.
Com todas as tentativas esgotadas de ouvir o Senhor Bispo, O Estado teve acesso a uma correspondência trocada entre ele e o senhor Antonio Renato Casimiro, um juazeirense residente em Fortaleza que epistolou um pedido de explicação sobre os fatos que correm por todas as paragens da diocese do Crato.
Caro Dom Fernando,
Sou grato por sua atenção na leitura e resposta ao meu texto. Sinceramente, Sr. Bispo, frustrei-me em aguardar que uma eventual resposta de V. Revma. pudesse avançar o meu esclarecimento sobre a questão. À exaustão de como se encontram nossas ansiedades e angústias para ver resolvido este caso, isto me levaria a aceitar como um bálsamo a lembrança de sentença tão apropriada: “... a verdade vos libertará!” Por que terá V. Revma. ido a tal simplificação? Melhor não seria nos serenar, dizendo-nos: CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ? Exatamente porque, Sr. Bispo, se existe neste caso uma só verdade, e não a verdade de cada um de nós, cabe neste momento ao epíscopo a sua revelação, o caminho do nosso entendimento, nos termos, não do que propus, que outra coisa não é senão o conjunto de indagações que se fazem, diante da perplexidade que nos assaltou, mas do que esperamos da Igreja do Cariri, tão habituada a sentir no vigário do Juazeiro, a presença e a ação de um “servo fiel”. Quem nos fará conhecer esta verdade, se para ela não conhecemos as razões do eclesiástico que não demandaria nenhum conhecimento das razões de Estado? Nesta hora, em que concordamos com sua posição pelo zelo apostólico presente na Diocese, enxergamos que reside aí o ponto crucial. Mas, santa ingenuidade de alguém, esta, a de que uma simples propositura possa vir a iluminar o conhecimento da causa que reclama luzes de direito canônico e direito civil. Estou certo, Sr. Bispo, que nenhum de nós, ao analisar a presença e o seu papel sobre isto, trairia a herança de Mons. Murilo na empatia que se revelou desde a primeira hora, e que, mesmo na leve evidência de raras e pequenas divergências, nunca comprometeria o sentido que damos à pessoa do Diocesano, nem no plano pessoal, muito menos institucionalmente. Tranquilize-se! O Bispo e sua Diocese nunca serão objeto direto de uma destemperança, da nossa leviana intolerância. Razões até houve no passado para que isto gerasse choque, bem o sabeis. Mas, o tempo é o grande senhor da razão que nos amadureceu pelos anos. Bispo e Diocese ainda o serão alvos fáceis destes “interesses escusos”. Não é difícil reconhecer. Triunfará a Verdade, certamente. Mas, não estamos usurpando nada, se reclamamos, enquanto povo de Deus. E aí, sim, perguntas e respostas, dúvidas e esclarecimentos, descrença e fé. Felizmente, Deus – Nosso Senhor, sabe muito bem o que nos une e o que nos divide.Agradeço-lhe novamente pela generosidade da atenção e dos seus termos. Aguardo que, também, à sombra de frondoso e acolhedor Juazeiro, V. Revma, continue a zelar por estes novos e tortuosos caminhos que se estreitam no Cariri, margeados por toda a sorte de incompreensões. Com os meus respeitos,Antonio Renato.
O Bispo respondeu:

Prezado Prof. Antonio Renato,

Encontro-me em Aparecida do Norte, á sombra da casa da Mãe, no Dia das Mães, participando da 49ª Assembléia Geral da CNBB. Embora longe da Diocese, chegam até mim os ruídos dos meios de comunicação local, alguns raivosos e outros fantasiosos, para não dizer injustos,
Acuso o recebimento da sua carta “Aos amigos de Mons. Murilo”. Deus é testemunha que uma amizade sincera, sacerdotal, respeitosa e afetuosa unia o venerável Pároco ao seu novo e jovem Bispo, desde o dia da minha primeira visita á Paróquia de Nossa Senhora das Dores até o dia do sepultamento do Monsenhor, quando chorei como no dia da morte do meu pai.
Agora, há pessoas que, movidas por interesses diabólicos (diabo, na etimologia da palavra grega, é aquele que divide), querem “bagunçar o coreto”, tem interesses escusos, confundem a opinião do povo, semeiam joio no campo de trigo, caluniam, injuriam, roubam e matam (como lemos no Evangelho). Mons. Murilo deve estar inconformado e desgostoso com tais pessoas... Ele, junto de Deus, está contemplando a verdade na sua inteireza, objetivamente. A ação judicial movida pela Diocese não é contra Mons. Murilo, mas contra quem – presumivelmente – agiu em má fé e ofendeu, sim, a honradez, a confiança e a santa memória de Mons. Murilo. Por mais que a Diocese proclame isto aos quatro ventos, parece que estamos falando para surdos; e o “pior surdo é aquele que não quer ouvir”. Fique certo, Prof. Antonio Casimiro: a História (e não as estórias) haverá de nos revelar o Rosto da Verdade, para a alegria e a Paz de todos. Vale o ditado da sabedoria do povo: “Deus escreve direito por linhas tortas”. Ciente disto, vou caminhando com serena confiança. A última palavra será sempre de Deus. Cristo, que é o Caminho – Verdade – Vida, ressuscitou!
Por fim, devo dizer que tenho uma missão a cumprir e uma vocação a viver. O “Epíscopo” (Bispo) é quem, entre outras tarefas, deve zelar e vigiar pela “casa de Deus”, como um pai de família que administra com prudência e sabedoria os bens de sua casa. Não posso ser omisso e nem negligente no cumprimento deste meu dever de supervisionar (epi – scopô) a administração do patrimônio das Paróquias, e portanto da Diocese, de acordo com o Código de Direito Canônico.O filósofo grego Aristóteles ensina: “Platão é meu amigo, mas a verdade é uma amiga maior”. E Jesus confirma: “A verdade vos libertará”.Atendi o seu pedido. Peço licença, agora, para voltar ao meu silêncio... Deus lhe pague.
Saudações respeitosas.
Dom Fernando Panico

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