Começa o comércio de maconha no Colorado

  • Clientes fizeram fila na porta de estabelecimentos desde cedo
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O veterando da Guerra do Iraque, Sean Azzariti foi o primeiro cliente da loja 3D Cannabis Foto: Brennan Linsley / AP
O veterando da Guerra do Iraque, Sean Azzariti foi o primeiro cliente da loja 3D Cannabis Brennan Linsley / AP
Denver - Colorado - O americano Sean Azzariti é veterano de guerra. Fez parte das tropas enviadas pelos Estados Unidos ao Iraque desde 2003 pelo então presidente George W. Bush. Mas, ontem, ganhou as manchetes por uma experiência que nada tem a ver com o combate no Oriente Médio. Ele foi o primeiro cliente a comprar maconha numa loja do Colorado beneficiando-se da entrada em vigor da lei que permite a venda de até 28 gramas da erva, por pessoa, para maiores de 21 anos no estado. Azzariti, que já participara de campanhas pela legalização, desembolsou US$ 59,74 pela compra. Disse que ela ajudará a aliviar o estresse pós-traumático do qual sofre desde que voltou para Denver, onde nasceu. Atrás de Azzariti, na porta da loja Cannabis 3D, a fila de clientes era tão longa quanto diversa, numa quebra de estereótipos que marca um novo capítulo no país em sua relação com as drogas.
O início peculiar de 2014 no Colorado marca também a largada de uma experiência sem precedentes que será observada atentamente pelo mundo inteiro durante todo o ano. O estado, que já permitia a venda de maconha com fins medicinais, passa a ser o primeiro do mundo a disponibilizar também o plantio, o consumo e a compra da erva sem necessidade de receita médica, longe de traficantes de drogas e num mercado regulado que, estima-se, pode movimentar US$ 570 milhões por ano, incluindo quase US$ 70 milhões em impostos.
Os donos das lojas licenciadas para a venda abriram suas portas às 8 horas da manhã de ontem, com a expectativa de que a nova indústria renda os lucros esperados pelas autoridades. Ao menos 37 estabelecimentos em oito pontos do estado, segundo o “Denver Post”, estavam a postos para o primeiro dia da venda — com empregados e seguranças extras. A busca cresceu com o avanço da manhã, e os clientes passaram de dúzias a centenas em algumas lojas.
— Queríamos ser parte deste movimento. Estamos fazendo história — disse Brandon Harris, que dirigiu 20 horas desde Blanchester, Ohio.
Residentes de outros estados podem comprar até sete gramas da droga, mas devem consumi-la no Colorado. Jacob Elliot, de Virginia, uniu-se à multidão que resistiu ao frio de um grau negativo antes do amanhecer em Denver:
— Isso rompe uma barreira. Podemos agora comprar a erva como qualquer outro produto.
Moradora de Denver e já avó, Michelle Wold quis ser uma das primeiras da fila “num dia histórico”:
— A proibição acabou, isso é revolucionário.
Horas antes, consumidores de maconha deram as boas-vindas ao Ano Novo e ao início da nova indústria sob uma nuvem de fumaça, numa festa no centro de Denver cujo tema remetia à lei seca de 1920: “A proibição terminou.”
Mais de um ano de preparativos
Além dos consumidores, a presença das autoridades também era ostensiva, com Barbara Brohl, da Divisão de Maconha, afirmando que a supervisão do sistema regulatório será forte.
— Vamos estar muito mais engajados — disse.
A aplicação da nova lei gerou dúvidas. Opositores temem que a mudança aumente a disponibilidade da droga aos adolescentes, apesar de as vendas serem restritas a adultos. E alertam que o acesso mais fácil poderia propiciar um crescimento do consumo excessivo e da delinquência.
Os preparativos para a legalização da posse, o plantio e o consumo da maconha para além de fins medicinais começaram há mais de um ano, depois que os eleitores do Colorado aprovaram, em 2012, a criação de uma indústria legal da erva. O estado estabeleceu um sistema para patrulhar as plantações — pela nova lei, o plantio é limitado a seis pés por pessoa — para evitar que a erva acabe direcionada ao mercado negro.
Pela legislação federal, porém, ela continua ilegal. Mas o Departamento de Justiça permitiu que Colorado e Washington, que se prepara para aplicar sua versão para esse mercado ainda este ano, criem seus próprios estatutos. Em comum, autoridades, defensores e opositores passam a acompanhar juntos o sucesso — ou o fracasso — da iniciativa.

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