Da Coluna Eliomar de Lima, pelo jornalista Demitri Túlio:
De início, o plano da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) era transferir do Ceará 60 líderes das três facções que vinham comandando, de dentro dos presídios, o crime nas ruas de Fortaleza e outros municípios do Ceará. Até ontem, foram removidos, ao todo, 39 para a Penitenciária Federal de Mossoró: 21 do Comando Vermelho (CV) e 18 da Guardiões do Estado (GDE). Pelo menos, por enquanto, segundo uma fonte do governo, a SAP teria desistido de transferir 20 criminosos já relacionados do Primeiro Comando da Capital (PCC).
A justificativa seria que o sistema aqui daria conta de isolá-los e monitorá-los. A Inteligência do órgão penitenciário teria detectado que os ataques estariam restritos a integrantes do CV e da GDE. Há outra leitura possível. O PCC, diferente das duas facções, tem um melhor nível de organização no cenário do crime no País. A GDE, por exemplo, é uma organização criminosa “doméstica”. Teria sido fundada no Ceará a partir de um racha de lideranças cearenses que teriam se recusado a continuar pagando a “cebola”, uma mensalidade cobrada pelos paulistas. Pois bem, o PCC, por ser mais “nacionalizado” que o CV, poderia decidir aprofundar ainda mais a crise no território cearense. Além, também, de desencadear um efeito dominó pelo resto do País. A análise foi posta na mesa por alguns integrantes do Centro de Inteligência do Nordeste que é sediado em Fortaleza.
De 20 a 26 líderes do PCC estariam isolados em uma cela na CPPL3, com vigilância 24 horas de agentes fortemente armados do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) do Batalhão de Choque da PM cearense. A decisão foi comunicada ao governador Camilo Santana (PT). Embora não entenda de estratégia policial, ele tem de calcular a repercussão política das ações dentro e fora do Ceará.
As análises de informações têm de apontar, por exemplo, o que significa enviar 39 homens do CV e da GDE para a segurança máxima em Mossoró e deixar aqui membros do PCC. Como isso chega para os criminosos na rua, onde as ações não param? No presídio, aparentemente, a situação estaria caminhando para o Estado voltar a ser a lei no interior do sistema penitenciário.
Por trás da suposta neutralidade do PCC na onda de atentados que já dura 11 dias no Ceará, segundo uma fonte, poderia estar o financiamento dos atentados. O PCC estaria colocando na mão da cúpula dos líderes da GDE, fora dos presídios, meios para comprar combustível e outras “armas” usadas nos atentados.
No Ceará, o PCC tem negócios. Em 2005, o furto milionário ao Banco Central foi “patrocinado” pela quadrilha de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Atualmente preso em Presidente Venceslau (SP). Foram roubados do BC R$ 164,7 milhões sem um tiro ou morte. Em Fortaleza, o irmão de Marcola, Alejandro Camacho, foi preso em 2016. E em Aquiraz, ano passado, os líderes Paca e Gegê do Mangue foram justiçados pelo próprio PCC.
Nos 500 celulares apreendidos nos presídios deve haver informações preciosas para a inteligência e emprego do policiamento ostensivo. Mas até aqui, quantos líderes fora dos presídios foram presos? A maior parte dos 309 presos ou apreendidos é massa de manobra, gente usada para tocar o terror e desestruturar serviços básicos na Cidade. Liguei para o secretário Luís Mauro Albuquerque, mas ele disse que estava em reunião e desligou o telefone.