O dia

 


Sabe gente, o amanhã é um negócio sensacional. Tão assim que sugiro que não espere nada do amanhã. Tem até pedaços de poemas, como aquele do Augusto dos Anjos... A mão que afaga é a mesma que apedreja/ A boca que beija é a mesma que escarra. Né coisa de desilusão coisa nenhuma que no meu tempo de vivência não tem lugar pra amargura, muito menos pra reclamo. Viver a realidade é muito mais fácil que o engodo da esperança, a expectativa que alucina e corrói até o fundo da alma. Isso é a verdade, jamais a ilusão. Quando partimos, no vigor dos annos,/Da vida pela estrada florescente,/As Esperanças vão comnosco á frente/E vão ficando atraz os Desenganos. Estes versos são do Thomas, o Padre que viveu seus últimos anos vizinho lá de casa na Praça João Pesssoa. Cê entendeu? Gostar é gostar; apegar é apegar. São coisas diferentes, são frutos de árvores vizinhas, são sementes de que brotam plantinhas que crescem e se misturam. Só que aprendi, muito cedo, com minha mãe, dona Maria Ferreira da Ponte, que a mentira e a verdade, são como o azeite e a água; se confundem mas não se misturam.Pegue isso pro seu dia. Sem abatimento, sem contar nos dedos, sem tussir nem mugir. Só pegue, arrume num lenço branco pra parecer um sepulcro caiado e guarde. Na idade, mais adiante, possa ser que você cruze com os versos do soneto do Thomaz...e se acerte...O contrario dos tempos de rapaz /
— Os Desenganos vão comnosco á frente/ E as Esperanças vão ficando atraz!. Mas toque seu berrante, puxe sua boiada, chame seu gado e com ele pense no portugues José Régio,em cuja terra, Vila do Conde,aos pés de seu busto em bronze, declamei...Não, não vou por aí! Só vou por onde/ Me levam meus próprios passos...
Pois tá, entendi você dizendo...isso vai acabar em porre. Nem eu duvido.



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