Aconselhados
por Lula, os principais operadores do PT vinham se esforçando para não
discutir com Dilma Rousseff. Nas últimas horas, conseguiram superar o
objetivo. Descobriu-se que partido e presidente já nem se falam.
Num
gesto de estreitamento da animosidade, o PT convidara Dilma para
participar da reunião do seu diretório nacional, neste sábado.
Informou-se que ela iria. Súbito, a poucas horas do encontro, a
presidente mandou avisar que não dará as caras.
O petismo reagiu
com um misto de surpresa e irritação. A ficha da Dilma ainda não caiu,
disse ao blog um membro do diretório do PT, emendando uma indagação: se
ela trata a gente assim, aos pontapés, como espera seduzir os outros
partidos a permanecerem do seu lado em 2014?
A turma do
deixa-disso tentava, na noite passada, convencer Dilma a rever sua
posição. Até Lula foi acionado. O PT sentiu-se desrespeitado. A desculpa
soou esfarrapada. Alegou-se que Dilma terá de realizar uma reunião para
conferir o esquema de segurança montado para proteger o papa Francisco.
Lorota.
Na verdade, Dilma está tiririca com o PT. Há duas
semanas, ela reunira no Planalto algumas das principais vozes da
legenda. Ouviu e rebateu críticas. Pediu coesão ao partido na defesa dos
interesses do governo. Guindou o plebiscito sobre reforma política à
condição de prioridade.
Na saída, o líder do PT na Câmara, José
Guimarães (CE), disse: “Vamos trabalhar para rearticular a base,
pacificar a base. A viola desafinou um pouco. E qualquer viola
desafinada tem que ser afinada. E o PT pode ajudar a afinar e já está
afinando.” Conversa fiada.
Há cinco dias, Lula convidou a nata do
petismo para um encontro no instituto que leva o seu nome, em São Paulo.
Conforme já noticiado
aqui,
Dilma foi espinafrada nessa reunião. O companheiro Guimarães estava lá.
E não a defendeu. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP),
também marcou presença. Engrossou o coro de críticas.
Os
interlocutores de Lula pediram-lhe que aconselhasse Dilma a alterar os
rumos de pelo menos três áreas do governo: economia, articulação
política e comunicação social. A presidente impacientou-se ao saber que
havia sido alvejada pelas costas.
Dilma esquentou ao descobrir que
o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), de quem ela não gosta, fora
escolhido para coordenar o grupo de trabalho da reforma política.
Escolha do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Que o
presidente do PT, Rui Falcão, tentou evitar.
A presidente entrou
em ebulição ao ler aspas de Vaccarezza dizendo que não dá mais para
aprovar mudanças nas regras político-eleitorais em tempo de aplicá-las
em 2014. Se sair, a coisa valerá para 2016 e 2018. No idioma do asfalto:
adeus, plebiscito-já.
Numa tentativa de reduzir a temperatura mercurial de Dilma,
o líder José Guimarães divulgou
nota
para informar que, em matéria de reforma política e plebiscito,
Vaccarezza não representa o PT. O partido fez chegar ao Planalto, de
resto, que o diretório também aprovaria uma nota anti-Vaccarezza. E
nada.
Ainda que Dilma dê meia-volta, comparecendo ao diretório,
ficou claro que mantém com o PT um casamento muito esquisito. O partido
se casou com a esquentadinha da Casa Civil, que nem conhecia direito, só
porque papai Lula mandou. Na primeira crise, o matrimônio desandou. E
não há Lula que dê jeito.