Dilma tornou-se menos “lulodependente”, eis a principal novidade insinuada sob as estatísticas. Mais um pouco e poderá deixar o cercadinho da continuidade.

A valiação pessoal de Dilma supera a de Lula no nono mês de governo: 71% contra 69%. Ultrapassa também a de FHC: 57%.

O mesmo ocorre com a avaliação do governo: 51% de ótimo e bom para a gestão Dilma, contra 43% atribuídos à administração de Lula e 40% à de FHC.

Lula não “desencarnou” como prometera. A despeito disso, subiu de 11% para 15% a taxa dos que acham que a pupila governa melhor que o ex-soberano.

O índice dos que consideram Lula melhor do que Dilma (26%) ainda é maior. Porém, sem alarde, a distância encurta-se devagarinho.

Herdeira da megapopularidade do criador, que deixou a presidência flutuando numa nuvem de 87% de aprovação, Dilma agrega à sua imagem capital próprio.

Cresceu a popularidade dela, por exemplo, na região Sul –um pedaço do mapa em que o ex-rival José Serra prevalecera nas urnas de 2010.

Nas duas primeiras sondagens do Ibope (março e julho), Dilma experimentara uma queda.

Ruíra a aprovação pessoal –de 73% para 67%— e também a avaliaç!ão do governo –de 56% para 48%.

Entre uma pesquisa e outra, escalaram as manchetes a prosperidade patrimonial de Antonio Palocci e a roubalheira dos Transportes, então sob Alfredo Nascimento.

Por que os índices de Dilma subiram a 71% e 51% se o noticiário continuou monopolizado pelos malfeitos, dessa vez na Agricultura e no Turismo?

A resposta está na cara feia de Dilma. Ela não agiu, reagiu. Renegou o vocábulo “faxina”. Trocou seis por meia dúzia. Onde havia PMDB, manteve PMDB.

Dilma não produziu senão pantomima. Porém, diferenciou-se de Lula ao fazer cara de nojo. A platéia enxergou sinceridade no incômodo da presidente.

Sem querer, Lula Dilma ao dizer que político tem que ter “couro duro”. Ficou entendido que, se fosse ele o presidente, malfeitor não cairia com simples petelecos da imprensa.

O tema mais lembrado pelos pesquisados do Ibope foi a corrupção (19%). O segundo, as demissões de ministros (13%).

Quer dizer: ainda que empurrada pelas denúncias, meio a contragosto Dilma acabou fazendo limonada do limão.

No mais, a popularidade de Dilma manteve-se em patamares confortáveis graças sobretudo à atmosfera econômica, ainda benfazeja.

As ações do governo mais bem avaliadas pela população, acima dos 50%, foram o combate ao desemprego e à pobreza.

Mas o Ibope não serviu apenas purpirinas a Dilma. Mostrou a ela um par de luzes amarelas.

Continua alto o percentual de brasileiros que desaprovam a política de Brasília no combate à inflação 55%.

É mais alto ainda o índice dos que torcem o nariz para a voracidade com que a máquina coletora de impostos avança sobre os bolsos alheiros: 66%.

Dilma, obviamente, dispõe de sus própria pesquisas. Como não é boba, substituiu o lero-lero pró-recriação da CPMF pelo discurso da melhoria da gestão na Saúde.

Considerando-se o último relatório trimestral do Banco central, Dilma vai precisar de muito mais gogó para driblar a encrenca que se avizinha.

No documento do BC, a previsão do crescimento do país em 2011 caiu para 3,5%. Há três meses, previa-se 4%. No início do ano, a Fazenda falava em 4,5% e até 5%.

A estimativa de inflação para o ano, que era de 5,8%no penúltimo relatório do BC, agora subiu para 6,4%.

Trata-se de uma cifra otimista. Sobretudo quando se recorda que, no acumulado dos últimos 12 meses, a inflação oficial já rodava, em agosto, na casa dos 7,23%.

Materializada na gôndola do supermercado, a carestia tende a azedar o humor do brasileiro que responde à turma dos institutos de pesquisa.

Seja como for, para o bem ou para o mal, Dilma já não está escorada em Lula. Será mais ou menos popular dependendo do modo como vai lidar com a crise.

Na proporção em que se livra do vício da “lulodependência”, terá de exibir virtudes próprias.